Olhar de dentro
É fácil estar em nossa casa, sentarmo-nos no sofá e ligar a televisão para saber as notícias do dia. É fácil ouvir os números dos mortos, saber das estratégias e conhecer até um pouco da história. É fácil ficar impressionado mesmo sabendo que em nossa casa, no nosso sofá, não podemos fazer nada.
Antes de apanhar o avião rumo à Palestina, Gaza era quase e apenas, um acontecimento a marcar a actualidade, com a história do Médio Oriente a acontecer por trás. Coisas que se aprende na escola e que, de vez em quando, nos são lembradas pelos meios de comunicação.
É difícil ouvir as histórias das pessoas que se conhece e se aprende a gostar, sem nos sentirmos impressionados, emocionados e quase revoltados. É difícil falar com eles sem que a mágoa surja, mesmo que quase acidentalmente. Mesmo quando se riem e fazem piadas sobre a situação. Porque fazem. É difícil saber que hoje estamos aqui, solidários, mas que amanhã vamos embora e eles vão continuar aqui, peões de um jogo que nunca quiseram jogar.
Por muito que se estude, nunca se compreende Gaza, Israel e a Palestina sem se estar cá. Sem ver as caras, saber os nomes, os desejos. Saber que israelitas e palestinianos são pessoas como nós, que querem ser engenheiros, pintores e arquitectos no futuro. Que vivem com medo que esse futuro não aconteça. E que quase todos têm uma história dramática para contar, que viveram de perto, e que aconteceu na própria casa.
Esta viagem valeu a pena logo no primeiro dia. Com o cheiro da terra. Com a hospitalidade dos que nos receberam. Dos amigos que já fizemos e de tudo o que já se aprendeu.
A partir de
Marta Velho
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