domingo, 11 de janeiro de 2009

Jerusalém, a Cidade Santa

O que há de tão especial nesta cidade?

Contaram-nos que alguém disse que não havia nada de mais em Jerusalém, mas a verdade é que aqui está tudo.

As três religiões monoteístas que sustentam grande parte do pensamento religioso mundial convergem nesta cidade que é metade palestiniana, metade israelita. Milhões de peregrinos visitam Jerusalém todos os anos, as épocas de maior afluência vão mudando consoante os diferentes períodos religiosos de cada uma das crenças.

Os judeus concentram-se no muro das lamentações, o mesmo muro onde Maomé prendeu os seus cavalos quando subiu aos céus no Dame of the Rock alguns metros mais atrás. O milagre da ressurreição, o maior símbolo do Cristianismo está também presente dentro das muralhas do antigo centro da cidade de Jerusalém. Aqui, podemos caminhar na Via Sacra onde há dois mil anos atrás Jesus carregou a sua própria cruz e personificou a mensagem mais importante da sua doutrina: o perdão. O Santo Sepulcro, outro dos locais mais visitados pelos peregrinos cristãos é religiosamente vigiado por padres ortodoxos de diferentes partes do mundo. Aqui, tentei sentir a força de anos de catequese e missas de domingo, algo que se tornou fisicamente impossível tal é a afluência do local.

Jerusalém mostrou-se muito diferente da imagem que fiz dos livros de catequese e dos filmes que costumam passar na Páscoa e no Natal nas televisões portuguesas. Jerusalém é uma cidade controlada de forma obsessiva, causando um certo desconforto para quem vai em busca de alguma paz de espírito ou um encontro com o seu Deus.

Durante a visita à Terra Santa fomos submetidos a três inspecções israelitas: uma na entrada da cidade, outra na entrada para o muro das lamentações que se encontra, juntamente com os outros símbolos religiosos, dentro das muralhas da cidade antiga e ainda um outro local de inspecção na entrada muçulmana (único local onde foi vedada a entrada a não crentes). Tudo isto numa extensão de escassos metros quadrados.

Para passar do muro das lamentações para a mesquita de abóbada dourada temos que passar num segundo check-point com soldados israelitas, que para além da pistola comum têm também uma espécie de metralhadora. Pergunto-me, que espécie de local santo é este?

Esperava de Jerusalém um local puro, uma cidade que me conseguiria fazer sentir e encontrar uma justificação para os acontecimentos mais marcantes da História da Humanidade. Não senti, não consigo encontrar nenhuma explicação sustentável e esclarecedora para os dias que se vivem aqui, especialmente, e um pouco por todo o mundo. Porém, a tentativa de procurar a magia do berço das civilizações foi um exercício emocional desafiante.

No fim do dia lembrei-me da Noora e do Usama, os únicos participantes do projecto que não nos puderam acompanhar porque não tinham o “papel de permissão” para poder entrar na Cidade Santa.

Sara Silva

1 comentário:

  1. Ao ler o artigo que a Sara Pereira da Silva escreveu, fiquei com lágrimas nos olhos e fúria no pensamento.
    Fiquei também esperançado que a multiplicação deste tipo de experiências acabe de uma vez com a desgraçada cegueira que os Estados e os seus governantes parecem ter e que os leva a pensar que eternamente poderão enganar e obstruir o conhecimento e a verdade daqueles a quem dizem "governar".
    As mentalidades e os ideais não se governam apenas se limitam ou castram de uma vez,é isso de que os Povos sofrem e é isso que vocês demonstraram quão acertado é combater.
    "Dizia o poema,«que não há machado que corte a raiz ao pensamento»
    Pensando e sendo livres,serão vocês que poderão passar os valores da liberdade e da tolerância às gerações vindouras, uma vez que estão despoluídos dos interesses parasitários,que subsistem à custa da miséria e desconhecimento que fomentam entre os Povos.
    Obrigado por terem denunciado aos mais distraídos que existem milhares de Nooras e Usamas por este Mundo.
    Obrigado por verem e denunciarem que os rockets afinal quando existem são como o Sol nascem para todos,independentemente das razões que cada um evoca para os usar.
    A arma ideal e que tão bem sabem usar,é a partilha das vossas ideias e ideais para assim parar de vez com a festança do intolerável e do ódio, que são alimentados com grandes doses de cinismo, ignorância e hipocrisia...e diria também com petróleo e religião.

    ResponderEliminar

Footer