quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Hebron

Aqui, na parte antiga da cidade, os bonitos passeios da rua e a serenidade do dia-a-dia escondem-se atrás do ódio que reina entre israelitas e palestinianos.
Um ódio que se instalou muito antes da criação do Estado de Israel, em 1948.
Nos anos 20, diversas lutas entre judeus e árabes começaram por causa da partilha do mesmo local religioso: o túmulo de Abraão. Disputas que causaram muitos mortos e que culminaram no abandono das terras pela população hebraica.
Mais tarde, os israelitas regressaram para colonizar Hebron e hoje são cerca de 400 pessoas, da facção mais extremista de Israel, que moram aqui sendo protegidas por quase 1500 soldados hebraicos, para manter a sua Terra Santa.
Os check-points são rigorosos já que israelitas e palestinianos partilham as mesmas paredes.
Em Hebron, o apartheid é uma realidade.

Ypp em colaboração com Bertrand Soulcie













Território palestiniano à esquerda (pessoas); território israelita à direita (torre de controlo).

Passar a noite fora

Noites culturais
Com o insuficiente sinal de wireless que temos no hotel, pouco mais conseguimos do que a página principal do Google. Contudo, embora estejamos de facto isolados somos todas as noites convidados a viajar para um dos países presentes neste encontro, uma estratégia óptima para quebrar estereótipos e para entender um pouco mais sobre as diferentes culturas que nos acompanham nestes onze dias. As noites interculturais, definição consensual neste tipo de projectos, traduzem-se de diferentes formas. Por razões óbvias, duas delas tiveram um carácter mais eurocentrista, enquanto as outras duas nos levaram para realidades menos conhecidas. De repente éramos convidados de honra de todo o ritual do casamento palestino, uma tradição bastante demorada, ou ainda levados a descobrir o nosso futuro através das borras de café turco no fundo de uma chávena. Foram feitos jogos de perguntas, tipo Trivial Pursuit, pequenas dramatizações, danças, projecção de fotografias e claro…sempre muita comida!
De uma forma divertida e relaxada, depois do brainstorming diário, sabe tão bem assumirmos outras entidades nacionais, conhecer elementos culturais diferentes, que embora nos pareçam estranhos, fazem-nos perceber que todos eles têm o mesmo objectivo: unir os homens, os povos, traduzir e identificar valores comuns duma herança única. Todos nós tínhamos muito para mostrar nestas noites e apercebi-me o quanto necessitamos de algo palpável para nos assumirmos enquanto indivíduos que pertencem a uma determinada cultura.
Nós, portugueses, optámos pelo vinho do Porto, o chouriço assado, as guitarras em papel duma casa de fados fictícia, licor Beirão, um galo de Barcelos e alguns bolinhos tradicionais que facilmente se puderam conservar. O cartaz “Welcome to Tasca” acabou por se infiltrar na decoração da sala durante os dias seguintes.
Este tipo de noites, tal como, observar, assimilar e compreender são as melhores ferramentas de comunicação ao nosso dispor.
A bateria do telemóvel tem chegado e já lá vão cinco dias.
Sara Silva


1. Casamento palestiniano.
2. O destino turco.

A Universidade de Belém

Foram vários os jovens estudantes palestinianos que conhecemos em Belém. Vários a estudar na Universidade local e que, um dia, decidiram ir mostrar-nos onde e como é o sítio onde estudam.
Se alguma de nós pensava encontrar um edifício escuro e velho, frio e sem recursos, enganou-se. A Universidade de Belém é um local lindo, aprazível, acolhedor, cheio de espaços verdes, com salas bem equipadas, com corredores simpáticos e com bons equipamentos. Tem espaços que convidam ao estudo, outros para o convívio e ainda uma capela ortodoxa que nos remete ao silêncio da nossa existência.
Marta Velho


sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Os vistos de Israel

Quem quiser visitar Israel, arrisca-se seriamente a comprometer viagens turísticas futuras. Ter um visto do estado hebraico no passaporte equivale a uma condenação a nunca pisar o solo dos países árabes vizinhos.
É esta a sina dos israelitas. Terem que lutar pelo seu estado contra os constantes ataques dos que os rodeiam. Sejam ataques políticos, bombistas ou morais. Por isso, é quase fácil compreender a magnitude do exército hebraico presente em toda a Israel e em toda a Palestina, a proteger os seus de qualquer ameaça. Se os palestinos sofrem com os check-points, também deve ser difícil para os israelitas viverem atrofiados numa redoma de cristal, rodeados de fardas verdes e metralhadoras.
O Governo de Telavive tudo faz para manter a população em segurança e tenta transmitir conforto a toda a gente. Apesar de a presença de soldados ser uma constante, Israel tem ruas bonitas, passeios limpos e arranjados, as pessoas são simpáticas e cordiais e, de repente, quase parece que estamos num país ocidental que, por engano, veio parar a um local distante e conflituoso.
Por muito duros e profissionais que nos pareçam os seguranças do aeroporto, notamos uma certa mágoa a bailar nos olhos quando pedimos para não nos carimbarem o visto de entrada no passaporte, mas sim numa folha à parte.
Eles sorriem, acedem e fazem o que pedimos. Porque aqui já aprenderam que há certas coisas que não vale a pena levar muito a peito.

Marta Velho

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Linguagem cultural

Abraçar o mundo através música

A manifestação dos escuteiros

Belém, 13 Janeiro 2009.
As tropas israelitas voltaram a atacar via aérea.

Na praça principal de Belém, com a igreja da Natividade a observar, escuteiros de toda a região fizeram hoje uma manifestação de solidariedade para com Gaza. Crianças, adolescentes e adultos com lenços ao pescoço, juntaram-se em frente ao Centro de Paz de Belém. “Esta manifestação é por aqueles que estão a sofrer em Gaza”, explica Rania Malki, coordenadora do programa do Centro de Paz.
Esta foi uma manifestação cristã curta e pacata, acompanhada de velas e a fazer-se valer pelo simbolismo.


Joana Cleto

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O microfone aos Palestinianos

Para quem quiser ouvir

"Eu não quero que ninguém me alimente, ninguém que me dê água, que me tire dos sítios onde quero estar. Prefiro ser eu a tomar conta de mim. Isto pode parecer ridículo, mas é assim que vejo as coisas. Eu até sou do tipo de pessoas que se sente satisfeita com o que tem. Israel está aqui e não vai sair. Está nas nossas terras e vai continuar a estar. Acredita que o caminho não passaria totalmente por deixar de lutar, mas por agora seria jogar o jogo deles. Ok, parem de arranjar desculpas para ocupar cada vez mais as nossas terras e para matar cada vez mais palestinianos. Parem com isso. Levem o que quiserem e deixem-nos com o pouco que ainda temos." Jabra

"Precisamos que alguns colonatos sejam removidos. Também precisamos de sermos nós a tomar conta da nossa terra. Não podemos ter uma Cijordânia dividida em duzentos pedaços. Se eu tiver de ir de Belém a Ramallah são 20 minutos a conduzir. Agora demoro cerca de duas horas, a passar por centenas de postos de controlos e a seguir inúmeros desvios. Para eu me sentir satisfeito, tinha que poder mover-me no meu país. Sejam quais forem as fronteiras com as quais acabe por concordar mais tarde, eu quero poder viajar livremente, sem nunca ter que pedir permissão a ninguém para ir a nenhum lugar do mundo. Eu não quero negociar com niguém o poder movimentar-me no meu país. Eu um direito simples e primário que tenho se me quiser considerar com um cidadão de um país chamado Palestina." Nicola

"Para mim, uma solução que satisfaça ambos os lados não existe. Mas acredito que eles talvez considerem a possibilidade de nos dar a Cijordânia e Gaza. Se nos aceitarmos isso, vamos acabar por abrir mão de imensas coisas. Primeiro, os direitos dos refugiados, seria abdicar deles, não admitindo que eles pudessem voltar. Depois existe ainda a questão do abastecimento de água e, claro, o problema de Jerusalém e o facto de não conseguirmo ir livremente a qualquer zona sob o controlo de Israel." Daniela

"No meu ponto de vista, toda a gente devia ter o direito de poder viajar livremente. Espero que todos os postos de controlo, todas as fronteiras fechadas, todas as restrições possam vir a ser removidas, para que possamos ir a certos lugares da Palestina, do nosso país, onde nunca estivemos." Jasmine

"Imaginem uma cassa onde vocês morassem. Um dia vinham estranhos atirar-vos dali para fora. Vocês lutavam com eles e concordavam - ok, fiquem com a casa, nós contentamo-nos com um quarto. O tempo passava, tinham filhos e começavam a perguntar-se a vocês próprios - mas porque tenho de ficar só com este quarto, se a casa é minha porque não posso ter acesso a todas as divisórias? É uma questão que temos de ter bem presente antes de podermos falar sobre o que se está a passar. Se eu fosse a Portugal e quisesse ficar com a vossa terra e deixar-vos só uma pequena parte, vocês aceitavam?" Leith

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