terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A Galinha da Vizinha

Queixar-se de Barriga Cheia

Quando embarcámos nesta aventura vínhamos ainda cheios dos nossos problemas de Portugal: uma crise que a todos asfixia… um Governo do qual muitos reclamam… greves e manifestações…

Falávamos de salários baixos e alto custo de vida, dos trocos que tínhamos de poupar e de um emprego das nove às cinco que nem sempre era tão estimulante como queríamos. E que todos nós… um dia, ainda gostávamos de ir para o estrangeiro.

De repente na Palestina, para além de todo o conflito de Gaza que emanava de cada poro da rua, somos confrontados com um intercâmbio onde nos pedem, também, para falar do nosso país e de conflitos que entre nós pudessem existir.

Os palestinianos falaram da guerra, claro. Do sufoco que é viver sob o jugo de Israel. Do dilema político que enfrentam entre um Hamas terrorista e uma Fatah corrupta. De um apertado sistema de crenças culturais que os asfixia mais ainda nas liberdades individuais e religiosas.

Os turcos falaram do eterno problema que têm de identidade cultural, da questão dos Curdos, da democracia ténue que os ocidentais não reconhecem como igual.

Os franceses lembraram a mistura que têm de raças e credos e que nem sempre é bem aceite pela sociedade. Da tentativa de serem um estado laico mas que os impede de exprimirem livremente as próprias opções religiosas.

Em termos de conflitos, lembrámos a divisão espanhola e questão da ETA. Falou-se do Tibete. Das Coreias. E de muitos outros pontos do globo que ocasionalmente saem nas notícias, nem sempre pelas melhores razões.

Quando tivemos que falar de Portugal… sentimo-nos quase envergonhados por apresentar um país cheio de sol, junto ao mar. Falámos do fado e da saudade. E em termos de conflitos territoriais… bom, há Oliveirença, que muita gente nem sabe do que se trata ou onde fica.

Somos livres. Vivemos bem. E não damos valor a isso.

Marta Velho

2 comentários:

  1. Vivemos bem? Fala por ti. Lá porque vivamos melhor que os palestinianos - o que é verdade - não quer dizer que nos devamos resignar à vida que temos. Com os salários mais baixos da Europa, com as maiores desigualdades sociais da Europa, com os preços dos produtos ao mesmo nível da média europeia. Com a privatização e elitização do Ensino Superior, com o aumento das taxas moderadoras nos hospitais, com o aumento dos preços dos transportes, com o aumento das rendas das casas. Os jovens têm de ficar a viver até tarde em casa dos pais porque não conseguem empregos estáveis e razoavelmente remunerados para conseguirem pagar uma casa própria. Sim, realmente não percebi que viviamos bem.

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  2. Olá!
    És livre para reclamar... és livre para votar noutras pessoas... és livre para mudar este país ou mudar-te para outro.
    Eles não.
    Beijinho

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