quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Hebron

Aqui, na parte antiga da cidade, os bonitos passeios da rua e a serenidade do dia-a-dia escondem-se atrás do ódio que reina entre israelitas e palestinianos.
Um ódio que se instalou muito antes da criação do Estado de Israel, em 1948.
Nos anos 20, diversas lutas entre judeus e árabes começaram por causa da partilha do mesmo local religioso: o túmulo de Abraão. Disputas que causaram muitos mortos e que culminaram no abandono das terras pela população hebraica.
Mais tarde, os israelitas regressaram para colonizar Hebron e hoje são cerca de 400 pessoas, da facção mais extremista de Israel, que moram aqui sendo protegidas por quase 1500 soldados hebraicos, para manter a sua Terra Santa.
Os check-points são rigorosos já que israelitas e palestinianos partilham as mesmas paredes.
Em Hebron, o apartheid é uma realidade.

Ypp em colaboração com Bertrand Soulcie













Território palestiniano à esquerda (pessoas); território israelita à direita (torre de controlo).

Passar a noite fora

Noites culturais
Com o insuficiente sinal de wireless que temos no hotel, pouco mais conseguimos do que a página principal do Google. Contudo, embora estejamos de facto isolados somos todas as noites convidados a viajar para um dos países presentes neste encontro, uma estratégia óptima para quebrar estereótipos e para entender um pouco mais sobre as diferentes culturas que nos acompanham nestes onze dias. As noites interculturais, definição consensual neste tipo de projectos, traduzem-se de diferentes formas. Por razões óbvias, duas delas tiveram um carácter mais eurocentrista, enquanto as outras duas nos levaram para realidades menos conhecidas. De repente éramos convidados de honra de todo o ritual do casamento palestino, uma tradição bastante demorada, ou ainda levados a descobrir o nosso futuro através das borras de café turco no fundo de uma chávena. Foram feitos jogos de perguntas, tipo Trivial Pursuit, pequenas dramatizações, danças, projecção de fotografias e claro…sempre muita comida!
De uma forma divertida e relaxada, depois do brainstorming diário, sabe tão bem assumirmos outras entidades nacionais, conhecer elementos culturais diferentes, que embora nos pareçam estranhos, fazem-nos perceber que todos eles têm o mesmo objectivo: unir os homens, os povos, traduzir e identificar valores comuns duma herança única. Todos nós tínhamos muito para mostrar nestas noites e apercebi-me o quanto necessitamos de algo palpável para nos assumirmos enquanto indivíduos que pertencem a uma determinada cultura.
Nós, portugueses, optámos pelo vinho do Porto, o chouriço assado, as guitarras em papel duma casa de fados fictícia, licor Beirão, um galo de Barcelos e alguns bolinhos tradicionais que facilmente se puderam conservar. O cartaz “Welcome to Tasca” acabou por se infiltrar na decoração da sala durante os dias seguintes.
Este tipo de noites, tal como, observar, assimilar e compreender são as melhores ferramentas de comunicação ao nosso dispor.
A bateria do telemóvel tem chegado e já lá vão cinco dias.
Sara Silva


1. Casamento palestiniano.
2. O destino turco.

A Universidade de Belém

Foram vários os jovens estudantes palestinianos que conhecemos em Belém. Vários a estudar na Universidade local e que, um dia, decidiram ir mostrar-nos onde e como é o sítio onde estudam.
Se alguma de nós pensava encontrar um edifício escuro e velho, frio e sem recursos, enganou-se. A Universidade de Belém é um local lindo, aprazível, acolhedor, cheio de espaços verdes, com salas bem equipadas, com corredores simpáticos e com bons equipamentos. Tem espaços que convidam ao estudo, outros para o convívio e ainda uma capela ortodoxa que nos remete ao silêncio da nossa existência.
Marta Velho


sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Os vistos de Israel

Quem quiser visitar Israel, arrisca-se seriamente a comprometer viagens turísticas futuras. Ter um visto do estado hebraico no passaporte equivale a uma condenação a nunca pisar o solo dos países árabes vizinhos.
É esta a sina dos israelitas. Terem que lutar pelo seu estado contra os constantes ataques dos que os rodeiam. Sejam ataques políticos, bombistas ou morais. Por isso, é quase fácil compreender a magnitude do exército hebraico presente em toda a Israel e em toda a Palestina, a proteger os seus de qualquer ameaça. Se os palestinos sofrem com os check-points, também deve ser difícil para os israelitas viverem atrofiados numa redoma de cristal, rodeados de fardas verdes e metralhadoras.
O Governo de Telavive tudo faz para manter a população em segurança e tenta transmitir conforto a toda a gente. Apesar de a presença de soldados ser uma constante, Israel tem ruas bonitas, passeios limpos e arranjados, as pessoas são simpáticas e cordiais e, de repente, quase parece que estamos num país ocidental que, por engano, veio parar a um local distante e conflituoso.
Por muito duros e profissionais que nos pareçam os seguranças do aeroporto, notamos uma certa mágoa a bailar nos olhos quando pedimos para não nos carimbarem o visto de entrada no passaporte, mas sim numa folha à parte.
Eles sorriem, acedem e fazem o que pedimos. Porque aqui já aprenderam que há certas coisas que não vale a pena levar muito a peito.

Marta Velho

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Linguagem cultural

Abraçar o mundo através música

A manifestação dos escuteiros

Belém, 13 Janeiro 2009.
As tropas israelitas voltaram a atacar via aérea.

Na praça principal de Belém, com a igreja da Natividade a observar, escuteiros de toda a região fizeram hoje uma manifestação de solidariedade para com Gaza. Crianças, adolescentes e adultos com lenços ao pescoço, juntaram-se em frente ao Centro de Paz de Belém. “Esta manifestação é por aqueles que estão a sofrer em Gaza”, explica Rania Malki, coordenadora do programa do Centro de Paz.
Esta foi uma manifestação cristã curta e pacata, acompanhada de velas e a fazer-se valer pelo simbolismo.


Joana Cleto

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O microfone aos Palestinianos

Para quem quiser ouvir

"Eu não quero que ninguém me alimente, ninguém que me dê água, que me tire dos sítios onde quero estar. Prefiro ser eu a tomar conta de mim. Isto pode parecer ridículo, mas é assim que vejo as coisas. Eu até sou do tipo de pessoas que se sente satisfeita com o que tem. Israel está aqui e não vai sair. Está nas nossas terras e vai continuar a estar. Acredita que o caminho não passaria totalmente por deixar de lutar, mas por agora seria jogar o jogo deles. Ok, parem de arranjar desculpas para ocupar cada vez mais as nossas terras e para matar cada vez mais palestinianos. Parem com isso. Levem o que quiserem e deixem-nos com o pouco que ainda temos." Jabra

"Precisamos que alguns colonatos sejam removidos. Também precisamos de sermos nós a tomar conta da nossa terra. Não podemos ter uma Cijordânia dividida em duzentos pedaços. Se eu tiver de ir de Belém a Ramallah são 20 minutos a conduzir. Agora demoro cerca de duas horas, a passar por centenas de postos de controlos e a seguir inúmeros desvios. Para eu me sentir satisfeito, tinha que poder mover-me no meu país. Sejam quais forem as fronteiras com as quais acabe por concordar mais tarde, eu quero poder viajar livremente, sem nunca ter que pedir permissão a ninguém para ir a nenhum lugar do mundo. Eu não quero negociar com niguém o poder movimentar-me no meu país. Eu um direito simples e primário que tenho se me quiser considerar com um cidadão de um país chamado Palestina." Nicola

"Para mim, uma solução que satisfaça ambos os lados não existe. Mas acredito que eles talvez considerem a possibilidade de nos dar a Cijordânia e Gaza. Se nos aceitarmos isso, vamos acabar por abrir mão de imensas coisas. Primeiro, os direitos dos refugiados, seria abdicar deles, não admitindo que eles pudessem voltar. Depois existe ainda a questão do abastecimento de água e, claro, o problema de Jerusalém e o facto de não conseguirmo ir livremente a qualquer zona sob o controlo de Israel." Daniela

"No meu ponto de vista, toda a gente devia ter o direito de poder viajar livremente. Espero que todos os postos de controlo, todas as fronteiras fechadas, todas as restrições possam vir a ser removidas, para que possamos ir a certos lugares da Palestina, do nosso país, onde nunca estivemos." Jasmine

"Imaginem uma cassa onde vocês morassem. Um dia vinham estranhos atirar-vos dali para fora. Vocês lutavam com eles e concordavam - ok, fiquem com a casa, nós contentamo-nos com um quarto. O tempo passava, tinham filhos e começavam a perguntar-se a vocês próprios - mas porque tenho de ficar só com este quarto, se a casa é minha porque não posso ter acesso a todas as divisórias? É uma questão que temos de ter bem presente antes de podermos falar sobre o que se está a passar. Se eu fosse a Portugal e quisesse ficar com a vossa terra e deixar-vos só uma pequena parte, vocês aceitavam?" Leith

A Galinha da Vizinha

Queixar-se de Barriga Cheia

Quando embarcámos nesta aventura vínhamos ainda cheios dos nossos problemas de Portugal: uma crise que a todos asfixia… um Governo do qual muitos reclamam… greves e manifestações…

Falávamos de salários baixos e alto custo de vida, dos trocos que tínhamos de poupar e de um emprego das nove às cinco que nem sempre era tão estimulante como queríamos. E que todos nós… um dia, ainda gostávamos de ir para o estrangeiro.

De repente na Palestina, para além de todo o conflito de Gaza que emanava de cada poro da rua, somos confrontados com um intercâmbio onde nos pedem, também, para falar do nosso país e de conflitos que entre nós pudessem existir.

Os palestinianos falaram da guerra, claro. Do sufoco que é viver sob o jugo de Israel. Do dilema político que enfrentam entre um Hamas terrorista e uma Fatah corrupta. De um apertado sistema de crenças culturais que os asfixia mais ainda nas liberdades individuais e religiosas.

Os turcos falaram do eterno problema que têm de identidade cultural, da questão dos Curdos, da democracia ténue que os ocidentais não reconhecem como igual.

Os franceses lembraram a mistura que têm de raças e credos e que nem sempre é bem aceite pela sociedade. Da tentativa de serem um estado laico mas que os impede de exprimirem livremente as próprias opções religiosas.

Em termos de conflitos, lembrámos a divisão espanhola e questão da ETA. Falou-se do Tibete. Das Coreias. E de muitos outros pontos do globo que ocasionalmente saem nas notícias, nem sempre pelas melhores razões.

Quando tivemos que falar de Portugal… sentimo-nos quase envergonhados por apresentar um país cheio de sol, junto ao mar. Falámos do fado e da saudade. E em termos de conflitos territoriais… bom, há Oliveirença, que muita gente nem sabe do que se trata ou onde fica.

Somos livres. Vivemos bem. E não damos valor a isso.

Marta Velho

Olhar de fora

Entender de dentro

É sempre estranho quando alguém que não conhecemos nos analisa, nos faz perguntas e opina sobre a nossa vida.

Aqui tem sido assim. Chegámos à Palestina a achar que sabíamos muito sobre este país, sobre este conflito e prontos para arrancar dos outros aquilo que ainda não tivemos. Prontos para falar com os jovens palestinianos e sugar-lhes toda a informação disponível.

Olhamos para eles e imaginamos o que pensarão. O que haverá por detrás daquelas histórias que já devem estar fartos de repetir. Como será viver aqui um dia-a-dia despreocupado quando têm a gente deles a morrer a não muitos quilómetros daqui. Como será que lutarão com todas as barreiras internas e externas, culturais e religiosas.

Os palestinianos estão em guerra com Israel. Não são bem vistos por quase nenhum dos restantes países árabes do Médio Oriente. Vivem com medo dos soldados hebraicos que lhes controlam até o ar que respiram. Politicamente ainda têm as disputas violentas entre a Fatah, associada à corrupção, e o Hamas, grupo extremista de Gaza. Como se não bastasse, todos os dias enfrentam, até os mais liberais, regras e costumes, culturais e religiosos, extremamente apertados.

O que pensarão eles de nós? Um grupo de portugueses, de franceses e de turcos que os olha como se fossem uma espécie em vias de extinção e que se acham muito entendidos sobre a terra que lhes pertence.

Nós tentamos, e vamos tentar a semana toda, chegar a eles e chegarmo-nos entre nós. Mas vai ser difícil.

Os piores muros são aqueles que existem na nossa cabeça.

Marta Velho

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O Muro

Mensagens de Vergonha





domingo, 11 de janeiro de 2009

Jerusalém, a Cidade Santa

O que há de tão especial nesta cidade?

Contaram-nos que alguém disse que não havia nada de mais em Jerusalém, mas a verdade é que aqui está tudo.

As três religiões monoteístas que sustentam grande parte do pensamento religioso mundial convergem nesta cidade que é metade palestiniana, metade israelita. Milhões de peregrinos visitam Jerusalém todos os anos, as épocas de maior afluência vão mudando consoante os diferentes períodos religiosos de cada uma das crenças.

Os judeus concentram-se no muro das lamentações, o mesmo muro onde Maomé prendeu os seus cavalos quando subiu aos céus no Dame of the Rock alguns metros mais atrás. O milagre da ressurreição, o maior símbolo do Cristianismo está também presente dentro das muralhas do antigo centro da cidade de Jerusalém. Aqui, podemos caminhar na Via Sacra onde há dois mil anos atrás Jesus carregou a sua própria cruz e personificou a mensagem mais importante da sua doutrina: o perdão. O Santo Sepulcro, outro dos locais mais visitados pelos peregrinos cristãos é religiosamente vigiado por padres ortodoxos de diferentes partes do mundo. Aqui, tentei sentir a força de anos de catequese e missas de domingo, algo que se tornou fisicamente impossível tal é a afluência do local.

Jerusalém mostrou-se muito diferente da imagem que fiz dos livros de catequese e dos filmes que costumam passar na Páscoa e no Natal nas televisões portuguesas. Jerusalém é uma cidade controlada de forma obsessiva, causando um certo desconforto para quem vai em busca de alguma paz de espírito ou um encontro com o seu Deus.

Durante a visita à Terra Santa fomos submetidos a três inspecções israelitas: uma na entrada da cidade, outra na entrada para o muro das lamentações que se encontra, juntamente com os outros símbolos religiosos, dentro das muralhas da cidade antiga e ainda um outro local de inspecção na entrada muçulmana (único local onde foi vedada a entrada a não crentes). Tudo isto numa extensão de escassos metros quadrados.

Para passar do muro das lamentações para a mesquita de abóbada dourada temos que passar num segundo check-point com soldados israelitas, que para além da pistola comum têm também uma espécie de metralhadora. Pergunto-me, que espécie de local santo é este?

Esperava de Jerusalém um local puro, uma cidade que me conseguiria fazer sentir e encontrar uma justificação para os acontecimentos mais marcantes da História da Humanidade. Não senti, não consigo encontrar nenhuma explicação sustentável e esclarecedora para os dias que se vivem aqui, especialmente, e um pouco por todo o mundo. Porém, a tentativa de procurar a magia do berço das civilizações foi um exercício emocional desafiante.

No fim do dia lembrei-me da Noora e do Usama, os únicos participantes do projecto que não nos puderam acompanhar porque não tinham o “papel de permissão” para poder entrar na Cidade Santa.

Sara Silva

Os Vistos

De pés atados para entrar na Terra Santa

Hoje, dia 11, foi dia de Terra Santa. A cidade dividida, onde israelitas e palestinianos se cruzam na mesma rua, deixando um rasto de olhares desconfortáveis.

Saímos de Belém de manhã, no check-point para entrar em Jerusalém em vez dos dez habituais palestinianos que nos acompanham, tínhamos oito.

Nicola Stefan é palestiniano, filho de pai palestiniano e mãe chilena. Nasceu no Chile mas aos 10 anos quando o pai morreu, veio viver para Belém. Desde 1995 que vive em Beitjala, uma cidade na região de Belém.

Como a maioria dos palestinianos, para entrar em Jerusalém, Nicola precisa de permissão.

Por permissão, entende-se um visto que é entregue pelo governo israelita e que autoriza a entrada de palestinianos na Terra Santa. Normalmente os vistos são pedidos pelos palestinianos através da igreja e são dados por razões especiais, em épocas festivas religiosas ou por motivos hospitalares.

Este Natal, Nicola conseguiu o visto. Durante um mês, de 21 de Dezembro a 21 de Janeiro, vai poder entrar e sair da sua reclamada capital, Jerusalém, a cidade berço de todas as religiões. “Toda a gente devia receber o visto. Nós não os proibimos de entrar, eles é que nos proíbem a nós.”, comenta Nicola.

Nem todos os palestinianos conseguem este visto. Só o recebe quem a autoridade judaica acha que tem um “cadastro” exemplar, sem indícios de participação activista.

Usama Khamis não recebeu o visto. Há 2 anos que não vai a Jerusalém. “Eles não me dão nenhuma razão específica mas dizem sempre o mesmo, .” explicou-me Usama quando voltámos.

Este ano, em cerca de 5.000 pedidos de vistos pela igreja cristã entregues ao centro judaico “Atzion”, 500 foram concedidos.

Joana Cleto

Check-points

O pesadelo dos palestinianos


Lucy mora em Belém, estuda Direitos Humanos e Democracia na Universidade de Birzeit. As aulas começam às duas da tarde mas Lucy levanta-se às nove da manhã. Entre Belém e BirZeit está o check-point “Contaner”, um dos piores controlos israelitas.

“Eles fazem-te parar. Vêm o teu passaporte e fazem-te esperar o tempo que quiserem. Abrem o check-point quando querem e fecham quando lhes apetece. Fazem este controlo onde querem, quando querem. Por razões de segurança – é o que dizem”, contou-nos Lucy Talgieh

Os check-points são postos de controlo normalmente colocados na entrada das cidades ou em estradas importantes.

Quantos existem?
Cerca de 600 só na Cisjordânia.

Quem controla?
Soldados israelitas, normalmente jovens. Aos dezoito anos, seja homem, seja mulher, tem de cumprir serviço militar, durante dois anos. Só as jovens mulheres casadas são dispensadas. “São jovens demais para estarem aqui (nos check-points). A melhor altura para passar é no verão, quando os judeus reformados fazem os 20 dias obrigatórios de serviço anual”, continua Lucy.

Tipos de Check-points.

Check-points regulares:

De pessoas -
Um corredor gradeado, uma primeira cabine (para mostrar passaportes), mais uns metros a frente, outra cabine (detector de metais) última paragem, outra cabine, (confirmar vistos e passaportes).

De viaturas - Uma torre de controlo, duas cabines e alguns soldados israelitas armados. Pararam o autocarro em que seguiamos. Entraram, disseram ao guia palestiniano para sair do autocarro, e com as metrelhadoras a punho, pediram passaportes, deixaram-nos à espera e depois mandaram-nos seguir. "Já cheguei a estar três horas à espera que lhes apetecesse mandar-nos seguir", comenta o nosso guia, Usama.

Check-points voadores (flying check-points):
Postos de controlo móveis. Param onde quiserem, nos centros das cidades, nas estradas, dependentemente da situação política.

Nesta terra de contradições, onde não se pode percorrer o país livremente mas a maior parte das pessoas falam inglês, Lucy continua a dizer que não troca a Palestina pelos Estados Unidos, Itália ou Alemanha, alguns dos sítios que já visitou. “Palestine is my home. Here’s my people. Here’s my identity”.


Check-point fechado. (Porquê? "Ninguém sabe e também não se pode perguntar. Apetece-lhes."Lucy)
Joana Cleto

A Cisjordânia Israelita

A quem pertence esta terra?



Desde o acordo de Oslo, que a zona da Cisjordânia pertence à Palestina, sob o governo da Autoridade Palestiniana.

Ainda assim, este é um território que está cheio de check-points israelitas que controlam os palestinianos, os seus carros e identidades. Acaba por parecer, para quem está de fora, que a Cisjordânia é uma zona controlada tanto por Israel como pela Palestina. Os soldados do estado Hebraico, com o pretexto da protecção dos colonatos judaicos, podem aceitar ou negar a passagem dos palestinianos nas estradas do seu próprio território.

Os habitantes de Belém que trabalhem ou estudem na zona norte da Cijordânia têm pela frente uma estrada de 45 minutos. Mas esses 45 minutos podem transformar-se em quase quatro horas, dependendo do bom ou mau humor dos soldados dos check-points. Às vezes, o acesso está até fechado, impedindo trabalhadores e estudantes de chegarem ao destino.
Tudo isto dentro do território governado pela Autoridade Palestiniana.


Marta Velho com a colaboração de Bertrand Soulcié

sábado, 10 de janeiro de 2009

Crianças Israelitas

Sob o Sol de Israel


Crianças Palestinianas

Brincar na Palestina




A importância de Belém e Jerusalém

O berço das religiões

No conflito do Médio Oriente, Gaza e o sul do Líbano são as zonas que estão em crise e que obrigam a movimentações do exército israelita. Mas para Israel, a questão das fronteiras com a Palestina, mesmo noutros locais, continua também por esclarecer.

Jerusalém e Belém são dois pontos estratégicos que mantêm acesa a disputa entre o estado hebraico e os palestinianos. Cidades que fazem parte da Terra Santa e que são o berço de várias religiões, nomeadamente, a cristã, a judaica e a muçulmana. São zonas de muito turismo e com extremo interesse quer para Israel, quer para a Palestina.

Jerusalém, mesmo sendo uma cidade dividida entre estes dois povos, é quase totalmente controlada pelo exército hebraico, que muitas vezes impede a entrada de palestinianos com controlos rigorosos.

Já Belém, a cerca de dez quilómetros, fica mesmo na Palestina e é uma zona considerada pacífica, sob a influência da Fatah, que mantém vários acordos com o Estado hebraico. Quem aqui vive, em Belém, acredita que é do interesse de Israel manter esta zona em paz, uma vez que o exército israelita não tem capacidade para manter constantemente tantas frentes de ataque activas.

O poder de Israel em Belém faz-se sentir de outra forma.

Existem diversos colonatos, ou seja, zonas colonizadas por judeus, que controlam grande parte das terras e a água que abastece quase a Palestina. Uma situação que desespera os palestinianos, que dizem que estas condições vão ainda piorar.

É que Israel está já a construir um muro para dividir a cidade e que deve ficar concluído nos próximos anos.

Marta Velho

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Medos e Esperanças

O Início do Intercâmbio


No piso D do “Abrigo de São José”, no centro de Belém, começou hoje o programa “Learning to live together”.

Numa sala bem ampla com janelas grandes que deixavam entrar o sol da cidade santa juntaram-se cinco portugueses a três franceses, cinco turcos e cerca de dez palestinianos.

Com o “ice breaking” da Lucy, a palestiniana organizadora do evento, ficámos a saber se não todos, a maior parte dos nomes das pessoas com quem vamos partilhar os próximos dias. Depois de quebrarmos o gelo, veio o primeiro exercício, chamemos-lhe assim.

Num quadro ao fundo da sala estava uma folha branca dividida em dois. De um lado a palavra “Hopes” do outro a palavra “Fears”, na mão de cada um de nós, um par de post-its. “Cada um de vocês vai escrever nos post its quais são os vossos medos e quais são as vossas esperanças e depois vai-se levantar e colar no quadro” disse-nos Ymad Nassar, coordenador do programa.

O Emre acabou de chegar mas já teme a partida “Tive de esperar cinco horas no aeroporto para entrar (em Israel, Telavive). Não sei se vou ter de passar pelo mesmo quando voltar para a Turquia”. Do outro lado do quadro fica o post-it da esperança de conhecer novas pessoas no evento e de aprender com elas para clarificar ideias.

Já o Bertrand, não veio da Turquia, veio de Marselha, e não teve grandes problemas no aeroporto, a mensagem que deixou do lado esquerdo da folha foi o receio da continuação do conflito em Gaza e que esse possa chegar a Belém enquanto o programa dura. No que toca aos residentes, Jessica Al-aly, palestiniana de Belém, espera fazer a diferença ao longo da vida ao mesmo tempo que tem medo de perder a sua família por causa da guerra.

Um exercício simples que junta sentimentos de pessoas de vários cantos do mundo.


Joana Cleto

Sentir na pele

Olhar de dentro


É fácil estar em nossa casa, sentarmo-nos no sofá e ligar a televisão para saber as notícias do dia. É fácil ouvir os números dos mortos, saber das estratégias e conhecer até um pouco da história. É fácil ficar impressionado mesmo sabendo que em nossa casa, no nosso sofá, não podemos fazer nada.

Antes de apanhar o avião rumo à Palestina, Gaza era quase e apenas, um acontecimento a marcar a actualidade, com a história do Médio Oriente a acontecer por trás. Coisas que se aprende na escola e que, de vez em quando, nos são lembradas pelos meios de comunicação.

O difícil vem depois.

É difícil ouvir as histórias das pessoas que se conhece e se aprende a gostar, sem nos sentirmos impressionados, emocionados e quase revoltados. É difícil falar com eles sem que a mágoa surja, mesmo que quase acidentalmente. Mesmo quando se riem e fazem piadas sobre a situação. Porque fazem. É difícil saber que hoje estamos aqui, solidários, mas que amanhã vamos embora e eles vão continuar aqui, peões de um jogo que nunca quiseram jogar.

Por muito que se estude, nunca se compreende Gaza, Israel e a Palestina sem se estar cá. Sem ver as caras, saber os nomes, os desejos. Saber que israelitas e palestinianos são pessoas como nós, que querem ser engenheiros, pintores e arquitectos no futuro. Que vivem com medo que esse futuro não aconteça. E que quase todos têm uma história dramática para contar, que viveram de perto, e que aconteceu na própria casa.

Esta viagem valeu a pena logo no primeiro dia. Com o cheiro da terra. Com a hospitalidade dos que nos receberam. Dos amigos que já fizemos e de tudo o que já se aprendeu.

A partir de
agora, nunca mais Gaza vai ser só uma notícia.

Marta Velho

Entender Gaza

O que move esta guerra?

O conflito de Gaza, que começou nos últimos dias de Dezembro, já causou mais de meio milhar de mortos, quase todos palestinianos e a maioria mulheres e crianças.

Israel reclama que os números e as imagens que os meios de comunicação transmitem tratam-se de pura propaganda do Hamas. Primeiro, porque muitas das fotografias e vídeos transmitidos são de outros conflitos e mostram até vítimas provocadas por explosões causadas pelo próprio Hamas. Depois, porque os líderes deste grupo armado se escondem em escolas, hospitais e locais cheios de civis tornando-os a todos potenciais vítimas desta guerra.

Israel argumenta ainda que apenas se está a defender. O Hamas nunca respeitou as tréguas acordadas por ambas as partes em 2006 e frequentemente lançava rockets para solo hebraico. Apesar de os israelitas terem abrigos para se esconder, estes ataques lançam um constante clima de terror na população.

A justificação para a ofensiva de Israel prende-se com o combate ao terrorismo. O estado hebraico quer destruir o Hamas para garantir a segurança dos seus cidadãos. Apesar de os números serem chocantes e díspares em relação ao número de vítimas, as autoridades israelitas continuam a alegar legitima defesa, garantindo que o seu combate nunca foi nem nunca será contra o povo da Palestina.

Mas os palestinianos vivem oprimidos desde os anos 40, quando os judeus começaram a ocupar e a colonizar as suas terras, declarando o Estado de Israel em 1948. Desde então as fronteiras entre os dois povos estão em constante alteração e hoje à Palestina pertence apenas cerca de 10% do seu território inicial.

Mesmo esse pedaço de terra está dividido entre Gaza e a zona da Cisjordânia, onde ficam as cidades de Belém e Jericó, sem haver ligação entre ambas as zonas.

Israel controla o acesso aos recursos da Palestina, como a água e a electricidade. E impede a livre circulação dos palestinianos entre os dois estados com controlos rigorosos nas fronteiras. Existe ainda o drama dos refugiados, havendo milhões que foram forçados a abandonar as suas terras e que se instalaram em campos nos países vizinhos, sem os normais direitos de cidadania.

O Hamas foi eleito em Gaza porque foi sensível a estas questões. Alimentou os que passavam fome e abrigou os protegidos, prometendo recuperar a terra perdida para Israel e com esse argumento justificando os constantes ataques às cidades hebraicas vizinhas. Foi a solução mais fácil para este povo que como opção tinha apenas a Fatah, que controla ainda a zona da Cisjordânia, e que sempre foi associada à corrupção, sem se preocupar com as necessidades da população.

A comunidade internacional debate agora a resolução do actual conflito de Gaza, apelando insistentemente ao cessar-fogo. Mas mesmo quando a paz voltar existem ainda vários problemas de fundo nesta questão entre Israel e a Palestina.


Marta Velho

Estradas de Elite

A "Bigan Road"
Aterrámos em Telavive.
Depois de passarmos pelo típico problema da perda de malas, entrámos na carrinha do Wahed e rumámos a Jerusalém. A juntar esta cidade a Telavive está a estrada n.º100 ou Bigan Road, como é corriqueiramente conhecida.
Esta é uma das muitas estradas interditas aos palestinos, estradas que facilitam a vida dos israelitas, estradas que dividem cidades palestinianas.
Antigamente para ir de Belém a Ramallah (a capital politica da Palestina) os palestinianos levavam 60 minutos, agora, por causa desta estrada, são precisas três horas de desvios e esperas em check-points.

Para além dos israelitas, só palestinianos com “passaporte azul” são autorizados a transitar nestas estradas.
Wahed tem passaporte azul, vive em Jerusalém e por isso tem direito a ele. “Mesmo com este passaporte, para vos ir buscar, demorei uma hora no check-point à entrada da estrada. Revistaram toda a carrinha e deixaram-me à espera. Não podemos fazer mais nada a não ser esperar. Se reclamarmos, é certo que não passamos.”
A estrada acaba num posto de controlo e uma advertência para mim: “Don’t take pictures”.



Joana Cleto

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